Capítulo Cirurgia Vascular
Os vários Capítulos da Sociedade Portuguesa de Cirurgia surgiram como áreas de interesse dentro da Cirurgia Geral, com particular relevância na prática dessa especialidade e na sua formação específica, e atenta a multiplicidade de conhecimentos que ela implica, necessária para se compreender e abarcar na sua unicidade complexa o objecto da sua actividade: o ser humano doente.

O Capítulo de Cirurgia Vascular, criado em 1996, foi um dos primeiros a serem individualizados. A cada passo o cirurgião geral se cruza com vasos arteriais e venosos, e sobre eles tem não poucas vezes de actuar, bem como estudá-los de forma invasiva e não invasiva, nos mais variados aspectos da patologia cirúrgica com que lida. A formação em cirurgia vascular tem, pois, de fazer parte da sua preparação, para que a possa aplicar na prática sempre que disso necessite, em múltiplas situações.

Dominar as técnicas de sutura e de anastomose vascular é fundamental num cirurgião, quer em muita da cirurgia programada, quer em cirurgia de urgência. Ou em cirurgia urgente na sequência dum problema intra-operatório superveniente, já que é crucial que cada cirurgião saiba como se resolvem as complicações que lhe sucedam.

Na cirurgia do trauma é fundamental que as lesões vasculares, arteriais e venosas, obstrutivas ou por rotura, sejam diagnosticadas e tratadas atempada e adequadamente, o que está maioritariamente a cargo do cirurgião geral.

Na patologia arterial periférica há situações agudas que implicam um diagnóstico rápido e uma intervenção sem demora, e, na grande maioria delas, pelo país fora, os doentes recorrerão, antes de mais, ao cirurgião geral, que terá de lhes dar a resposta correcta. O mesmo com situações arteriais crónicas, no seu diagnóstico diferencial e orientação apropriada.

A insuficiência venosa crónica dos membros inferiores, com as varizes e as suas complicações, trombóticas e ulcerosas, incapacitantes e consumidoras de extensos recursos de saúde, com marcado peso socioeconómico, é uma patologia de grande prevalência no nosso país, e que na sua grande maioria, entre nós, é seguida e tratada pelos cirurgiões gerais. É uma área de sobreposição entre a Cirurgia Geral e a Angiologia e Cirurgia Vascular, integrando o conteúdo funcional das duas. Faz parte da actividade corrente e diária de muitos cirurgiões gerais, e dessa prática no campo da Cirurgia Geral resultou, aliás, a translação de conhecimentos de cirurgia laparoscópica para procedimentos cirúrgicos endoscópicos na área vascular, como a laqueação subfascial endoscópica de perfurantes insuficientes, esta inclusivamente implementada em Portugal por membros deste Capítulo.

O tromboembolismo venoso, patologia vascular transversal a praticamente todos os médicos e todas as especialidades, mas sobretudo às cirúrgicas, é frequentemente da responsabilidade dos cirurgiões gerais, que têm de dominar a sua profilaxia, diagnóstico e tratamento adequado na altura certa. Cientes que têm de estar, também, da sua relação estreita com o cancro, sobretudo digestivo, o qual está do mesmo modo largamente a seu cargo.

Por último, mas não em último, há a ligação muito chegada da diabetes mellitus à Cirurgia Geral, através do Pé Diabético, em cujo tratamento os cirurgiões gerais têm (e têm de ter) um papel fundamental (juntamente com os endocrinologista e internistas, ortopedistas e cirurgiões vasculares), em todos os níveis de gravidade da situação. Tal como está, aliás, estabelecido na Norma da DGS dedicada a essa patologia, com o objectivo de reduzir o mais possível as amputações por essa causa.

É nestes vários aspectos da Cirurgia Geral que o Capítulo de Cirurgia Vascular da SPC se foca, e o seu trabalho desde a sua criação tem sido no sentido de estimular a formação vascular dos cirurgiões gerais, e mantê-la viva e com capacidade de resposta sempre que necessária, permitindo-lhes ao mesmo tempo aquisição de mais conhecimentos nessa matéria, com troca de experiências e de resultados entre colegas. Quer como base técnica fundamental, seja qual for a sua área mais particular de intervenção enquanto cirurgiões, quer como actualização teórica e prática contínua específica, se for a vascular a sua actividade mais habitual, recordando-se mais uma vez que a grande maioria dos doentes venosos em Portugal estão a cargo de cirurgiões gerais.