Mensagem do Presidente

Como tem sido uma já longa tradição, a Direção da Sociedade Portuguesa de Cirurgia (SPCir) propôs uma lista candidata aos órgãos gerentes para o biénio subsequente ao seu mandato. A honrosa seleção recaiu sobre nós, um grupo de cirurgiões que a Direção da SPCir entendeu ter capacidade e interesse para manter viva, interessante, eficaz, rigorosa e imaginativa a nossa Sociedade. Servir a SPCir não pode ser por vaidade ou orgulho próprios, não é suficiente ser só porque sim, tem de ser e ter um projeto.

Somos cirurgiões que, pela diversidade de experiências profissionais, ditada pelos percursos individuais, pelo trabalho em hospitais de todas as tipologias e da generalidade das regiões do País, têm, enquanto grupo, uma visão transversal e abrangente da vida da SPCir, o mesmo é dizer, da vida dos seus Sócios, os Cirurgiões portugueses. Muitos de nós já integrámos Direções da SPCir por períodos mais ou menos longos, assumindo diferentes cargos. Mas a Sociedade ganhou uma dinâmica própria e uma visão funcional que possibilitou que se expandisse na sua relação com os Cirurgiões e os Internos, apesar dos tempos atribulados em que a pandemia nos mergulhou.

Queremos honrar a Sociedade e os princípios que nortearam os seus founding-fathers e queremos continuar a progredir na modernidade das linguagens de comunicação, presencial e virtual, para aproximar cada vez mais naturalmente os Cirurgiões entre si e com as dinâmicas de grupos nacionais e internacionais.

A “casa” da Cirurgia Portuguesa fica bem em qualquer parcela desta “aldeia global” em que vivemos.

Os objetivos para o biénio 2022/2024 enquadram-se nos Estatutos e Finalidades da SPCir. A evolução organizativa e programática que tem ocorrido nos últimos anos aumentou o grau de exigência na procura e alargou o leque das ofertas da SPCir. O grande fórum nacional da Sociedade, o Congresso Nacional, deve continuar a ser o tempo de encontro científico, profissional e social entre Cirurgiões.

Para atingir o nível científico que todos desejamos nestes Congressos, concorrem, entre outros, a atividade dos Capítulos, a Formação específica estruturada para Internos, bem como as atividades propostas por grupos

de Cirurgiões e de outras especialidades, regularmente programadas e creditadas e/ou sponsorizadas pela SPCir.

A Revista deve igualmente ter um papel incentivador e didático para aumentar a divulgação da atividade clínica estruturada e da investigação. Os desafios que vai enfrentar, para atingir as metas que todos pretendemos, vão ser significativos, trabalhosos, mas no fim-do-dia vai valer a pena.

O regular funcionamento dos Capítulos é essencial para a conquista dos desideratos da SPCir. A maior ou menor especificidade de cada Capítulo condiciona fins e meios necessariamente distintos. O modo de funcionamento e a tipologia das suas realizações programadas não podem ser alheios às suas circunstâncias. Embora o seu contributo para a formação dos Internos seja desejável e necessário, o foco natural dos Capítulos deve ser a atividade especializada dos Cirurgiões.

Pensamos que, no essencial, está neste âmbito de missão dos Capítulos contribuir para a normalização de boas-práticas (guidelines a publicar na Revista), compilação de resultados de análises clínicas de atuação e investigação, e, dentro do domínio da respetiva especialidade, rastreio de ensaios clínicos em que os seus grupos possam participar.

Acreditamos que desta atividade, que procuraremos incentivar, vai resultar uma maior visibilidade e utilidade da SPCir entre a generalidade dos seus Membros.

Dar continuidade aos programas formativos já iniciados é um objetivo essencial. A análise dos seus bons resultados e eventuais constrangimentos, orientará eventuais ajustes no formato, nos conteúdos e nos intervenientes. A progressão para um segundo nível de módulos formativos será contemplada. Articular o modelo formativo implementado pela SPCir com outras ofertas formativas creditadas deve ser procurado. O ATLS continuará a ser o principal programa para formação e progressão na abordagem do trauma. A responsabilidade pela formação dos Internos cabe, em primeira análise, aos Diretores de Serviço e aos Orientadores de Formação, que a SPCir deve ter como interlocutores e parceiros.

A SPCir deverá proporcionar uma plataforma informática com o calendário das principais ações e eventos formativos, com um display operativo simples, que permita a consulta do que já está agendado, para que quem pretende organizar um evento o possa datar na janela temporal adequada. Esta ferramenta poderá ser útil para a programar a formação. A Comissão de Internos em Formação Específica deve ser parceira e interlocutora na conceção e auditoria dos programas formativos. O Colégio da Especialidade de Cirurgia Geral da Ordem dos Médicos deve continuar a acompanhar este processo e colaborar no seu aperfeiçoamento.

Incentivar a investigação e publicação de trabalhos é um objetivo que não pode estar omisso num programa de qualquer Sociedade científica. Incentivo e motivação são dois vetores essenciais para que aconteça investigação e publicação de resultados. A primeira questão a resolver é

saber qual deve ser o vetor a iniciar a trajetória reitora da investigação. Devemos apostar no incentivo ou na motivação? A história, infelizmente, reporta-nos que a dessincronização destes vetores é o acontecimento mais habitual, sendo a causa mais desastrosa a limitar a investigação, por amputar projetos e desinteressar os autores.

As exigências atuais da investigação, limitam a atuação individual e exigem quase universalmente que se investigue em rede, para ganhar massa crítica intelectual e de resultados, para que os projetos tenham viabilidade económico-financeira e respeitabilidade científica. Estamos empenhados na criação dessas redes, sinalizando-as e recrutando as motivações para o sucesso.

Pretendemos lançar o Fórum dos Doutorandos em Cirurgia(s), para estimular a troca de experiências, de resultados e, não menos importante, para estimular a vontade de bater-à-porta, por quem gostaria de pertencer ao grupo. As Universidades serão seguramente nossos parceiros empenhados em colaborar na academização dos Cirurgiões.

Os nossos parceiros serão também as outras Sociedades científicas (ex.: cirúrgicas, oncológicas, metabólicas e outras), de língua portuguesa e também internacionais, com quem procuraremos estabelecer relações institucionais, à semelhança do que tem vindo a ser realizado. Devemos estreitar as nossas relações com a Ordem dos Médicos, designadamente no fomentar a obtenção de qualificações em European Boards. A colaboração com o Colégio deve manter os projetos em curso. A Indústria de Dispositivos e Medicamentos foi desde sempre um parceiro crítico para o funcionamento da atividade regular da SPCir. Pensar apenas no indispensável apoio financeiro direto às nossas realizações é extraordinariamente redutor. Foram estas parcerias que nos permitiram o contacto real, e em tempo adequado, com tantos elementos do progresso do armamentário cirúrgico que se desenvolveu nas últimas décadas. Esta exposição ao “novo” foi uma mais-valia que dificilmente pode ser quantificada, mas pensamos que os benefícios diretos e indiretos, para os grupos cirúrgicos e os doentes por eles tratados, têm um retorno para a sociedade que devemos relevar.

A “vida cirúrgica dos cirurgiões” portugueses desenvolve-se atualmente numa miríade de matrizes assentes, entre outros, nos sectores público e privado da saúde, na academia, nas instituições de investigação e desenvolvimento, nas missões humanitárias e nas de “paz”. Para todos seremos uma sociedade inclusiva e transversal – queremos conduzir a SPCir com equidade e pelo exemplo!


Professor Doutor Paulo Matos da Costa

Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia